quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Microsoft monta centro de dados para Office

Por Gustavo Brigatto | De São Paulo
Com um centro de dados instalado em solo brasileiro, a Microsoft anunciou ontem o lançamento do Office 365, a versão para internet do pacote de programas que virou um dos símbolos da companhia americana. Lançado internacionalmente em junho, o 365 é um dos passos mais ousados da Microsoft para competir contra o Google e outras companhias no mercado de computação em nuvem, modelo no qual programas de computador são acessados pela web.
A transição para o modelo de computação em nuvem tem sido um dos grandes desafios da Microsoft nos últimos anos. A Companhia, que desde os anos 70 fez fortunas vendendo licenças de uso de seus softwares, investiu bilhões de dólares para adaptar-se a um modelo no qual os clientes fazem pagamentos periódicos para usar essas ferramentas.
As primeiras iniciativas nesse sentido foram o Business Productivity Online Suite (BPOS) e o Azure, lançados em 2008 e 2009, respectivamente. Com o Office 365, que substitui o BPOS, a Microsoft dá mais um passo para consolidar sua presença nesse mercado.
Pacote de programas respondeu por quase metade do lucro operacional da companhia em 2010
De acordo com Kirk Koenigsbauer, vice-presidente da divisão Office da Microsoft, o Brasil tem sido um dos países com maior adoção das ofertas da companhia na nuvem. Desde que foi lançado no país, em junho de 2010, o BPOS atingiu a marca de 150 mil usuários. O país ficou atrás apenas dos Estados Unidos no ritmo de adoção do sistema. Com a chegada do Office 365, o BPOS deixa de existir e todos os clientes serão migrados para o novo produto. Os preços do serviço, por usuário, começam em US$ 6 para empresas de pequeno e médio portes e em US$ 2 para grandes grupos.
De acordo com Koenigsbauer, foi esse crescimento acelerado no Brasil que motivou a Microsoft a investir em um centro de dados local. "Não temos infraestrutura em todos os países onde atuamos. A abordagem é mais regional. Mas pelo crescimento do país, decidimos que o investimento era necessário para garantir a qualidade do serviço", disse o executivo em entrevista ao Valor. Koenigsbauer não quis revelar o valor investido, a estrutura, nem a localização do centro de dados local. De acordo com ele, manter segredo sobre essas informações é uma forma de garantir a segurança dos dados que trafegam pela infraestrutura.
Segundo Koenigsbauer, o modelo de nuvem aumenta os custos da Microsoft, que passa a ter que investir na manutenção de centros de dados e pessoal especializado em todo o mundo, mas, ao mesmo tempo, tem o potencial de aumentar a receita da companhia com serviços, uma atividade que oferece melhor rentabilidade no setor de tecnologia da informação (TI). "Antes, nós vendíamos o produto e tínhamos pouco contato com o nosso cliente. Agora, temos a oportunidade de estar sempre com eles", disse.
Aos 24 anos, o Office e seus programas - Word, Excel, PowerPoint e Exchange - tornaram-se referências para a produção de textos, planilhas, apresentações e envio de e-mails. A linha de produtos também se firmou como uma das principais fontes de receita da Microsoft: no ano fiscal 2010, o produto sozinho foi responsável por quase metade do lucro operacional de US$ 24 bilhões da companhia.
No Brasil, o pacote tem 92% de participação entre as empresas, segundo pesquisa da Fundação Getúlio Vargas de São Paulo (FGV-SP). A hegemonia, no entanto, começa a ser desafiada pelo crescimento de participação do Google em algumas áreas. O sistema de e-mail da companhia, por exemplo, vem crescendo e já é usado por 5% das empresas no país, segundo a FGV.
Koenigsbauer disse ao Valor que, além de questões técnicas, a oferta da Microsoft apresenta outro grande diferencial na comparação com o concorrente: a privacidade. "Nós não somos uma empresa de publicidade. Que companhia quer alguém olhando as suas informações para poder vender anúncios?" Procurado pelo Valor para comentar, o Google não encontrou um porta-voz até o fechamento desta edição.
Mas, a investida na nuvem não significa que a Microsoft pretende abandonar o modelo de venda de licenças. Segundo Koenigsbauer, nem todas as empresas estão preparadas para usar o modelo. "Adotar sistemas na nuvem não é uma obrigação. Cada companhia fará isso no seu próprio tempo", disse. Segundo a consultoria americana Bain & Company, os gastos com a nuvem em todo o mundo saltarão dos atuais US$ 20 bilhões para cerca de US$ 150 bilhões em 2020, representando 8% de todos os gastos com tecnologia.

Valor 09/11/11