Sintonia que garante plena mobilidade

TI Armazenagem e acesso a informações ficam disponíveis a toda hora e local, de qualquer aparelho

Martha Funke
Valor

Se a computação em nuvem afeta a tecnologia da informação globalmente, em todas as áreas  também pode ser a chave para a plenitude do conceito de mobilidade somada à banda larga permite finalmente que os dados sigam seus usuários – e não o contrário, como antes -, com geração, armazenagem e acesso a informações a qualquer hora e local, seja qual for o aparelho disponível. “ É um ponto de inflexão
A sincronia permitida pela nuvem consolida a visão de todos os dispositivos se tornarem móveis e todos os dados acessíveis”, resume Otávio Pecego, arquiteto sênior de soluções da Microsoft.
A  tendência se reflete nos mercados corporativos e de consumo em diferentes medidas. No primeiro caso, a aderência dos fornecedores é um dos principais sintomas. "As principais empresas de TI estão oferecendo ferramentas móveis com base na nuvem, como serviços colaborativos e aplicativos, estendendo o suporte para dispositivos como smartphonesi e, agora, tablets",destaca Monica Passo, vice-presidente de pesquisa do Gartner.
A lista inclui IBM, Cisco, SAP e Peoplesoft, entre outras, e já está chegando às fornecedoras de menor porte. Um exemplo é a brasileira Cigam, fornecedora de ERP, que a partir de abril libera o uso móvel de seu aplicativo com base em nuvem, cuja segurança será garantida por encriptação. A expectativa é que em um ano 30% dos 2 mil usuários do sistema estejam usando parte do sistema , segundo o gerente de produto Mauricio Ouriques. A SAP divulgou que, até 2012, espera que a penetração de dispositivos móveis nas corporações clientes chegue a 40%. Em 2015, a alemã trabalha com a hipótese de 1 bilhão de pessoas estarem acessando suas soluções por dispositivos móveis.
Em outra vertente crescem os fornecedores de serviços gerenciados remunerados on demand, que lançam mão de argumentos como flexibilidade e agilidade para sensibilizar os clientes. No Brasil, as operadoras de telefonia estão se movendo neste sentido. Um exemplo  é o da Oi que no ano passado começou a migrar sua armazenagem para uma nuvem privada, suportada por mais de 6 mil servidores. Hoje, com recursos computacionais já configurados em cloud, mira o modelo de infra-estrutura em tempo real, com provisionamento automático de recursos na medida da necessidade do usuário. "Antes o processo de preparação de um ambiente podia levar uma semana. Hoje isso é feito até em minutos", diz Pedro Ripper, diretor de desenvolvimento tecnológico e estratégia. A Vivo espera implementar até o segundo semestre seu projeto de auto provisionamento, com o mesmo objetivo. O próximo passo de ambas é oferecer serviço ao mercado, este ano.
Outra linha do portfólio corporativo das operadoras são os aplicativos. O e-mail é o mais popular. A Oi já está testando internamente há dois anos um sistema de webmail cloud que aumentou 70 vezes a capacidade de armazenagem no correio. Segundo Ripper, o investimento chegou a "algumas dezenas de milhões de reais", mas não foi dinheiro novo - foram apenas recursos que antes seriam destinados à infraestrutura tradicional e foram desviados para a nuvem privada. Além disso, a parceria com desenvolvedores vai permitir passos mais amplos. Um dos exemplos é o da 11M, que já tem no cardápio  softwares para automação de força de vendas, geolocalização,segurança e e-mail. ''Tudo pago como serviço e na mesma fatura do celular. A empresa não precisa investir, em software ou hardware", destaca Leonardo Queiroz, diretor de top clients da TIM Brasil.
Já pela perspectiva do consumidor, a nuvem favorece o uso de redes sociais, comunidades e microblogs, permitindo o surgimento de novos serviços baseados na computação e interação social. Só no Facebook, 60% dos acessos dos 500 milhões de assinantes já são originados de dispositivos móveis, observa Monica Passo. Ela lembra que a aquisição de programas disponíveis nas lojas de aplicativos deve aumentar com o uso da nuvem, embora hoje apenas 5 em cada 100 softwares adquiridos sejam remunerados e a maior parte deles cerca de dois terços - ainda rode localmente nos aparelhos.
                A questão será resolvida com crescimento do número de desenvolvedores especializados e da capacidade de sincronização,que também elimina um dos grandes gargalos da mobilidade total: a necessidade de um equipamento' mais parrudo, como um PC, para transferência e armazenagem de conteúdos. Serviço desse tipo, com base em cloud, começa a ser oferecido este ano pela Oi, que já oferece back up de contatos, de agenda e de arquivos simples.
 A facilidade para o desenvolvimento será uma das chaves para a expansão do uso da nuvem e beneficia as start ups. Pecego, da Microsoft, dona da ferramenta de desenvolvimento Azure e que já tem na nuvem soluções que vão do popular Hotrnail a CRM, passando por Office e Bing, entre outras, lembra que qualquer interessado hoje tem à sua disposição o poder de utilizar a capacidade de 100 mil PCs por uma hora a um custo absurdamente baixo
''A indústria coloca à disposição dos desenvolvedores uma massa de computação que antes não era acessível. Agora qualquer programador pode ter à sua disposição um data center de alta classe pagando com clientes conquistados", observa. O segmento tem o apoio das lojas de aplicativos, em busca de portfólios mais atraentes, e do modelo de negócios freemium, quando a oferta gratuita simplifica da tem a complementação de serviços pagos mais sofisticados.
A própria Cigam é um exemplo. Esta semana, lança na' app store da Apple uma solução que transforma qualquer smartphone em um leitor de código de barras, uma mão na roda para quem gosta de pagar boletos pela internet, Grátis,o produto chega à loja da Android no mês que vem. Já a Just Digital, tradicional parceira Google e há dois anos desenvolvedora de soluções Android, está desenvolvendo para rodar na nuvem produtos como uma planilha para controle de despesas pessoais. O lançamento está previsto para abril.
A versão gratuita é remunerada por anunciantes, seguindo modelo adotado, por exemplo, pela Microsoft, explica o diretor de tecnologia Marcos Farias. Já a 8D, start up que há dois anos trabalha com soluções móveis em nuvem e caminha para faturar seu primeiro milhão, criou jogos como o Pescador, com foco em educação para empreendedores e distribuído gratuitamente por um parceiro de conteúdo, e aplicativos como uma solução para rádios para iPhone, licenciada para quatro 'empresas.
Todo esse contexto depende, entretanto, de investimentos em infra-estrutura para acesso por banda larga. Ao fim de 2010, o Brasil contabilizava 202 milhões de assinantes de telefonia móvel e os terminais 3G totalizavam 20 milhões, com crescimento de 138% no ano. A Vivo se antecipou. Segundo Alessandro Pomar, gerente da divisão de arquitetura e inovação da operadora, até fim deste ano a Vivo finaliza a cobertura 3G dos 2,8 mil municípios prometida no plano lançado no ano passado, o que deve englobar cerca de 85% da população nacional. A TIM anunciará seu plano de investimentos, definido depois da aquisição da Intelig, no próximo dia 21.